Sociedade, educação e cultura

 ORIGEM DA SOCIOLOGIA UNIDADE 1 TÓPICO 1 - 1 INTRODUÇÃO A origem da Sociologia está vinculada à história do mundo europeu. Pensadores e obras do continente europeu iniciaram o debate e a reflexão em torno do que seria o conhecimento sociológico transformado em Ciência. Para melhor compreender esse debate sobre a origem e desenvolvimento da sociologia no solo europeu, é importante entender como era a Europa do início do processo de constituição da Sociologia. Na história da sociedade humana europeia, esse período de constituição da Sociologia tem suas bases no fim da Idade Média. Por isso, vamos entrar em nossos estudos no período conhecido como Idade Medieval. Veremos as principais características, como era organizada a Sociedade, o principal conhecimento produzido na época e sua relação com o movimento daqueles que defendiamo conhecimento sociológico ou aqueles fatos, acontecimentos e conhecimentos. 2 IDADE MÉDIA E SOCIEDADE A Idade Média, para a maioria dos pesquisadores, foi um período conhecido como a Idade das Trevas, ou seja, a Idade sem Luz, sem criatividade humana. A maior parte da história desse período teve como fonte de compreensão, de interpretação da vida e de tudo que se relacionava com a sociedade o conhecimento religioso ou o conhecimento teológico. Quase tudo girava em torno das coisas de Deus ou do próprio Deus pregado e comunicado pela Igreja da época (Igreja Católica Apostólica Romana). Esse cenário começou a mudar por volta do ano 1.000, com o surgimento das primeiras Universidades, com o fim da Idade Média e com o espírito renascentista, que povoou a Europa. Observando a configuração da Sociedade através do tempo histórico, podemos perceber que, no período medieval, a Sociedade apresentava algumas características que identificamos como principais: Relação principal: do Senhor Feudal e o Servo da terra. O Servo trabalhava nas terras do Senhor Feudal. Era considerado um produto da terra, se a terra fosse vendida, o Servo ficava nas terras como um produto a ser adquirido pelo comprador. A divisão social era hierárquica, dividida basicamente em  quatro estamentos ou estados: Rei, Nobreza, Clero e Servos, sendo que os dois primeiros possuíam privilégios em relação ao último grupo subordinado. Economia ou modo de produzir as coisas: a produção basicamente girava em torno das grandes extensões de terras, os Feudos. Esse sistema ficou conhecido como Feudalismo. As leis e os códigos de condutas sociais eram elaborados a partir das Tradições da Nobreza e da interpretação Bíblica. A visão de mundo, religião, educação, conhecimento, meio ambiente e cultura: Nessa época, predominava o conhecimento Teológico, marcado pela supremacia da Igreja Católica Apostólica Romana (Igreja e Fiéis). A cultura era elaborada a partir do Teocentrismo. A natureza era obra de Deus e era perfeita. A vida na sociedade medieval se caracterizava por um forte apelo às questões religiosas e rurais no sentido de que o modo de produção vigente, conhecido como Feudalismo, foi o mais usado em toda a história desse período, de grandes extensões de terras do Senhor Feudal, em que trabalha o servo, para fugir da miséria e buscar seu espaço no céu. Arte, Educação, Política, Religião, Leis, Cultura, entre outros setores da sociedade da época, eram fundamentadas no conhecimento religioso ou teológico. O teocentrismo era a medida de todas as coisas.

Viver na sociedade medieval era viver dentro dos limites da Igreja Católica Apostólica Romana. Diretrizes, princípios, normas estabelecidas na vida social tinham como parâmetro a interpretação da Bíblia por parte dos membros da Igreja. O destino da vida humana era imposto pela interpretação do clero, ou seja, o conhecimento produzido para interpretar e compreender a vida humana em todos os sentidos passava pelo crivo do conhecimento religioso amparado nas leituras bíblicas das autoridades religiosas da época

Entraremos agora em algumas características importantes para a compreensão da configuração e condição da vida na sociedade medieval. De acordo com Schipansk e Pontarolo (2009), o tempo na Idade Média e a relação com elementos religiosos e sociais se apresentava da seguinte forma:

QUADRO 1 – TEMPO E RELAÇÕES ESTABELECIDAS Tempo e relações estabelecidas Características Viver seu tempo Para nós pode parece estranha a forma como os homens e mulheres medievais viam e viviam o seu tempo, pois estamos habituados a uma rotina frenética, sempre correndo contra o tempo, preocupados com o próximo compromisso. A forma como os indivíduos entenderam e viveram o seu tempo é muito importante para que possamos compreender sua sociedade. Multiplicidade de tempo NoperíodomedievalvemosumaforçagrandiosadaIgrejasobremuitosaspectos da sociedade e, defato, o cristianismo influenciouprofundamente a relação das pessoas com o tempo. Além disso, nesse período havia uma multiplicidade de tempos: o tempo natural e rural; o tempo senhorial; o tempo religioso. O tempo natural e rural Estamos falando de uma época em que a agricultura era a principal atividade econômica e, portanto, uma época em que a terra e o seu uso eram fundamentais para a sobrevivência. A natureza imperava na medição e contagem do tempo rural. Existia o tempo das chuvas e o das secas; o do dia e o da noite; o do plantio e o da colheita; o do inverno e do verão. É o tempo dos dualismos tão enfocados durante o período medieval: luz e escuridão, calor e frio, ócio e trabalho, vida e morte. Esse tipo de tempo é cíclico, lento e longo, e os camponeses estavam habituados a esperar, pacientes, pela mudança – se é que ela ocorreria. Esse cenário é uma representação imagética do tempo cíclico: um fato precede o outro, mas voltará a acontecer – como as estações do ano. O tempo senhorial O tempo senhorial é, antes de tudo, militar, isso porque tem como pontos culminantes no ano os períodos dos combates, das reuniões da cavalaria e dos adoubements. O tempo religioso Os mosteiros levaram para além de suas muralhas o seu ritmo de vida. As atividades diárias eram ritmadas pelo badalo dos sinos e pelo eco das orações vindas dos interiores dos mosteiros.Aimportância dos sinos na IdadeMédia era muito grande, pois cada som emitido significava um acontecimento diferente. Adubamento Cerimônia de iniciação dos jovens para a cavalaria, na qual acontecia a benção cristã do novo cavaleiro. O bater dos sinos Certamente, marcava os principais eventos da vida urbana, quer chamando os fiéis para a celebração dos ofícios divinos, quer anunciando as festas; ora avisando o início e o fim do trabalho, ora lembrando triste acontecimento ou, ainda, alertando as pessoas para uma ameaça iminente. Toda a população sabia o significado dos diversos toques, que, apesar de serem incessantes, não perdiam o seu efeito no espírito dos ouvintes. Liturgia O ano também era marcado pela liturgia e pelas datas festivas relacionadas à vida de Cristo, como o Natal, a Páscoa, a Ascensão e o Pentecostes. Aos poucos foram se inserindo festas em honra à Virgem Maria e aos demais santos. Esses festejos normalmente marcavam acontecimentos importantes para questões econômicas, como, por exemplo, o pagamento de tributos aos senhores ou a festa da colheita. 6 Clero O clero era, também, o responsável pela medição do tempo útil e também pelo tempo destinado ao descanso no Domingo, pela liturgia cristã que definia quais eram os dias santos e de festa, bem como os dias de trabalho e os de jejum. O tempo da Igreja era dominante no medievo, mas pede que tomemos cuidado ao fazer essa afirmação, pois mesmo que a ideologia cristã tivesse total domínio sobre a população, a maioria dos camponeses não sabia e nem se importava que dia fosse (com exceção dos domingos e dias de festas), e é bem provável que não soubessem nem mesmo qual era sua própria idade e o dia do seu aniversário. Criação do mundo Segundo a narrativa da Igreja sobre a criação do mundo e do homem, eles foram criados em seis dias e o Criador descansou no sétimo, contemplando a sua obra. O domingo representava esse dia, e por isso devia ser reservado às orações e ao descanso. Horas canônicas Horas canônicas: São as várias partes do Ofício divino, escalonadas ao longo do dia: Laudes, como oração da manhã; horas menores (Tércia, Sexta e Nona, das quais se pode optar por uma única, hora intermédia, a mais adequada à hora do dia); Vésperas, ao anoitecer(considerada hora principal, juntamente com Laudes); Completas, ao deitar; e Ofício de Leitura, com o valor de tempo de oração meditativa durante a noite, embora podendo celebrar-se a qualquer hora. FONTE: Schipansk e Pontarolo (2009, p. 30-31) A relação das pessoas com o tempo na Idade Média explica muito sobre seu modo de vida. No entanto, vamos destacar outro aspecto fundamental dessa época: o espaço, os locais de reuniões, de trabalho, de estudos. Segundo Schipansk e Pontarolo (2009), assim se apresentava a relação espaço e ser humano no período medieval: QUADRO 2 – ESPAÇO E RELAÇÕES Espaços e relações Configurações Fixação ao solo A primeira condição para o funcionamento do sistema feudal era a fixação dos homens ao solo. Ora, a ligação dessas pessoas com a terra é indiscutível, pois a base da sobrevivência era a agricultura.Além do mais, é a organização espacial em feudos que estabelece o lugar de cada um: vassalo e suserano, servo ou senhor. Paróquias A divisão espacial em paróquias mostra que a Igreja teve importância ímpar também nesse aspecto, a criação do quadro paroquial. A paróquia reunia os grupos,formando aldeias ao redor da igreja (que era um edifício sacralizado) e do cemitério. O lugar central e para onde convergiam as atenções e os olhares era o altar – lugar onde a Igreja confirmava sua unidade através da eucaristia. Essa distribuição populacional ao redor dos edifícios sagrados origina um espaço “heterogêneo e hierarquizado, polarizado pelos santos e suas relíquias”. Vínculo a terra No entanto, não podemos confundir vínculo à terra com imobilidade, pois, ao contrário do que se acredita, nem todos os homens e mulheres da Idade Média passavam a vida inteira no lugar onde nasceram, muitos deles viviam em constante movimentação e peregrinação. Aparece como um elemento fundamental do encelulamento, que contribui para a estabilidade das populações rurais e, então, para a solidez do laço entre os homens e o seu lugar, indispensável ao funcionamento da dominação feudal. 7 Movimentação A movimentação se dava pelo fato de que, nesse tempo, as propriedades podiam ser provisórias. Os indivíduos estavam inseridos em uma hierarquia que determinava sua posição social: o senhortinha todo o direito de retomar do servo ou do vassalo a extensão territorial a ele concedida, desde que o transferisse para outra da mesma proporção. Entretanto, esse novo local poderia estar situado bem longe do local de origem. Já a peregrinação estava associada às experiências de exterioridade e poderia funcionar como um meio de reforçar o vínculo com o lugar de origem. Religiosidade O espírito religioso que imperava nessa época empurrava as pessoas para a estrada. A busca pelos lugares santos e pelas relíquias sagradas movia boa parte da população medieval. A travessia era, na maioria das vezes, cercada de dificuldades: os caminhos longos e tortuosos, o frio e a fome, o medo da noite e da floresta, os ladrões e o mau estado das estradas e dos caminhos percorridos. Peregrinação A peregrinação, portanto, não visava a satisfação do desejo pessoal de conhecer novos lugares, nem mesmo era uma atividade de lazer. A peregrinação era praticada como uma penitência, como uma provação. Era uma das formas de purgar pecados graves, de se sacrificar pelo perdão divino. Essas mobilidades e deslocamentos deixavam cada vez mais clara para os indivíduos a importância dos seus lugares e isso reafirmava neles o laço imaginário que os prendia ao seu espaço. FONTE: Schipansk e Pontarolo (2009, p. 32) O feudalismo predominou na Idade Média. Sendo assim, a agricultura era a base econômica dos povos europeus ocidentais. Como se observa, em geral, a Idade Média foi sumariamente caracterizada por um sistema político, econômico e social denominado feudalismo. Queiroz e Junior(2015, p. 34), caracterizam o Feudalismo da seguinte maneira: O feudo era tido como um “modo de posse de bens reais” e ‘feudal’ relacionava-se não apenas ao feudo propriamente, mas também aos encargos decorrentes deste tipo de posse. Posteriormente, durante a monarquia absolutista, a expressão que denominava o aspecto jurídico, passa a incorporar um conteúdo político. Com isso, passase a enfatizar como principais características do âmbito feudal os vários aspectos relativos à fragmentação da soberania. Mais tarde, a partir dos estudos e conceitos desenvolvidos por Karl Marx e Friedrich Engels, entre 1845 e 1846, o período medieval passa a ser visto pelos historiadores marxistas como um modo de produção, o chamado “modo de produção feudal”. Esse modo de perceber o feudalismo como fenômeno histórico implicava num entendimento em que a expressão “feudal” incorporasse também um conteúdo econômico, referindo-se não apenas à organização política e às relações pessoais estabelecidas entre os homens pertencentes às classes dominantes, mas também à própria maneira como estes sujeitavam uma população mais ampla para a organização de uma produção agrícola da qual todos dependiam para a sua subsistência. Assim, as relações verticais entre senhores e servos e todo um complexo sistema de trabalho e propriedade passavam a figurar o “modo de produção Feudal”. Portanto, o Feudalismo incluía tanto um sistema senhorial de exploração econômica-social, como o conjunto de mecanismos feudo-vassálicos, por onde se organizava a hierarquia.

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